Artigo de Opinião

Recém-formados: desafios ao ingressar no mercado de trabalho

Especialista afirma que a universidade tem papel fundamental na preparação dos alunos

Um dos sentimentos mais comuns entre os jovens que acabam de concluir a graduação é a ansiedade ao buscar pelo primeiro emprego. A instabilidade financeira e o desemprego são alguns dos fatores que dificultam a contratação de um recém-formado no Brasil. Um estudo realizado pela empresa Mindsight revelou que 48% dos brasileiros acreditam que os recém-formados são os mais afetados ao tentar ingressar no mercado de trabalho.

A graduação é um período de aprendizado e experiência, desse modo, a instituição de ensino tem o dever de preparar e capacitar os alunos para serem profissionais qualificados. A ex-aluna da Estácio e assessora de imprensa, Júlia Zouain, conta que teve apoio da faculdade e, por esse motivo, sentiu-se preparada para dar o próximo passo.

De acordo com a ex-aluna, os professores convidam profissionais da área para relatarem sobre o cotidiano da profissão, com o intuito de ajudar os estudantes a entenderem como o mercado de trabalho funciona. “Nessas aulas, repórteres, assessores de imprensa e coordenadores de comunicação nos contaram várias situações vividas por eles como profissionais – o que nos preparou para lidar com a realidade da profissão quando fomos introduzidos ao mercado de trabalho”, relatou a jornalista.

Outra forma de conhecer a realidade profissional é por meio dos estágios. Por esse motivo, alunos que estudam e trabalham têm receio de não conseguirem uma oportunidade na área para ganhar experiência durante o curso. A estudante de jornalismo e estagiária do Senado Federal, Sabrina Santos, conta que tinha medo de terminar a graduação sem passar pela experiência do estágio.

No começo eu fiquei com medo de não conseguir nada, porque já estava tarde para estagiar e eu não tinha experiência. Então comecei a investir nos projetos da própria faculdade e não demorou muito para eu conseguir a minha primeira oportunidade.

Sabrina Santos

Por ser uma nova fase, a conclusão do curso gera sentimentos, dependendo da intensidade, preocupantes. De acordo com Abhraao da Rocha, psicólogo organizacional, o processo da busca pelo primeiro emprego pode gerar insegurança e baixa autoestima na vida dos recém-formados. “A sensação de incapacidade e a necessidade de alto desempenho dificulta os primeiros passos. A insegurança pode ser motivada por algum medo e ser muito prejudicial; candidatos que demonstram domínio e controle ao se comunicar são mais bem avaliados”.

O profissional conta que é dever das instituições preparar os alunos para o mercado de trabalho e dá sugestões de como isso pode ser feito. “Mudanças poderiam ocorrer a partir do incentivo à criação de grupos de estudos, cultivo de bons relacionamentos com empresas parceiras – para que estágios sejam bem executados – e elaboração de projetos que auxiliem os recém-formados; como por exemplo: indicação de cursos interessantes para complementar a carreira do estudante e estratégias eficazes para ingressar no mercado de trabalho”, explicou.

Segundo a professora e coordenadora dos cursos de jornalismo e publicidade, Patrícia Lima, a faculdade auxilia no contato entre estudante e profissional por meio de palestras e sugestões de estágio, a fim de contribuir com a vida profissional do aluno.

“Nós damos todo suporte teórico-prático para que o aluno possa ingressar no mercado de trabalho preparado para os enfrentamentos que venha a ter. O nosso auxílio, além da sala de aula, são as agências experimentais – as quais foram criadas com o objetivo de trazer os alunos para perto da realidade do mercado de trabalho. E sempre trazemos professores e alunos egressos com experiência para aproximar os futuros formandos dessa realidade”.

Além de auxiliar no progresso do aluno, a faculdade oferece apoio psicopedagógico aos estudantes que necessitam de orientação durante a fase final do curso; como comenta a professora Patrícia: “A instituição tem um acompanhamento psicopedagógico, ou seja, para além do psicológico, através do NAAP – que é o Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico. Nós temos todo um processo de acompanhamento e conversa com os alunos que estão nesse processo de ingresso no mercado e final de graduação; então o NAAP oferece, junto às coordenações, um acompanhamento direcionado a fim de auxiliar no enfrentamento das possíveis inseguranças que possam surgir”, esclareceu.

O cenário profissional para jornalistas tem sido desafiante desde que o STF derrubou a exigência do diploma para exercício da profissão. Desde então, o perfil do jornalista tem mudado, principalmente após o surgimento de novas práticas jornalísticas – com a internet como fator exponencial.

Para a empregadora e diretora do Portal C+, Diana Silva, o profissional ideal deve ser proativo, confiante, objetivo e sincero. E explica que experiência na área é muito importante, mas não deveria ser o único critério de seleção.

“A realização dos estágios durante a graduação faz diferença, pois o candidato pode levar o que aprendeu à empresa e contribuir com ideias a partir das experiências adquiridas, mas não é somente isso que um recrutador deve observar. Além disso, deve ser levada em consideração a responsabilidade e a confiança do candidato em relação ao trabalho ofertado”, observou a empregadora.

A jornalista lista o que o empregador avalia na hora da seleção de um candidato e questiona o método de avaliação utilizado pelas empresas. “Acredito que existem muitas limitações na área da comunicação. Acho que um recrutador precisa olhar primeiramente para o que o candidato tem a oferecer à empresa, não somente para o currículo. Muitos candidatos só querem uma oportunidade para mostrar o potencial, mas acabam não conseguindo por não possuírem experiência. A meu ver, isso deveria ser repensado”, enfatizou.

A coordenadora comenta, ainda, sobre o perfil do jornalista contemporâneo e finaliza com um conselho aos estudantes de comunicação social:

O mercado exige um profissional multitarefa, um profissional que saiba trabalhar com várias ferramentas. Então eu diria que não falta emprego para jornalistas, o que falta, na verdade, são profissionais dentro desse perfil multifacetado que o mercado exige. O meu conselho para os alunos que estão para se formar é que não parem de procurar atualização profissional, pós-graduação; cursos que possam trazer um aperfeiçoamento maior. É importante estar conectado ao que ocorre no mercado de trabalho, procurar ser um profissional completo e entender sobre as técnicas e ferramentas multimidiáticas. Eu creio que não há ninguém preparado, acredito que precisamos focar no campo que queremos atuar e nos dedicar a esse processo.

Patrícia Lima

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